segunda-feira, 13 de setembro de 2010

FILME DA SEMANA: A GUERRA DO FOGO

Um grupo de homens pré-históricos tem no fogo um importante recurso para a garantia de sua sobrevivência, e após serem atacados e expulsos de seu território por um grupo rival, tem sua fonte de fogo acidentalmente extinta. O que os obriga a destacar três membros de seu grupo para partir em busca de uma nova fonte de fogo. Nessa jornada eles têm contatos com diversos grupos sociais, até que encontram um grupo que detém o conhecimento para produzir o fogo.

Dirigido por Jean-Jacques Annaud, o filme A Guerra do Fogo tem uma história aparentemente simples, mas seu enredo aborda várias questões acerca do homem e seu relacionamento com os outros indivíduos e com o meio em que vive.

O primeiro ponto a ser abordado é a visão que é passada pelo filme dos grupos sociais, eles não representam estágios da evolução do homem, mas culturas diferentes, diferentes saberes, que a seu modo, garantem a sobrevivência do grupo. E a partir da partilha desses saberes, é que os grupos evoluem, ao transformar velhos ou adquirir novos costumes.

Em seu livro, “Cultura: Um conceito antropológico”, Roque de Barros Laraia, coloca três características da cultura:

1. Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura

2. A cultura tem uma lógica própria

3. A cultura é dinâmica

E no filme de Annaud, vemos claramente essas três características. Voltando à questão da partilha de saberes, Laraia afirma que a partir de influências internas e / ou externas, a cultura se modifica constantemente, e por isso é dinâmica. Assim fica claro essa característica no filme, quando os dois grupos que interagem entre si, partilhando os saberes tem suas culturas transformadas, o grupo dos protagonistas por exemplo, aprende a sorrir, a manipular armas, a produzir o fogo.

Já na cena inicial, quando percebemos uma divisão de funções: um membro é o sentinela do grupo, outro é o guardião do fogo; vemos um exemplo da primeira característica, cada indivíduo participa diferentemente de sua cultura. O que é visto também em outros grupos, no grupo da mulher, por exemplo, vemos que ela tem uma função diferente das outras mulheres, que são reprodutoras.

A diferença que há entre as culturas, é o exemplo da segunda característica, o funcionamento interno de cada uma, a hierarquização do grupo, a localização geográfica, tudo isso influi no grupo e mostra que cada cultura tem sua lógica, fruto de suas experiências vividas. “A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence.” (LARAIA, 1997, p.90)

A tecnologia como uma fonte de poder, conceito que foi trabalhado por teóricos da escola de Frankfurt, como Habermans e Marcuse, também é mostrado nesse filme. Para eles, “...a dominação se perpetua e se estende não apenas através da tecnologia, mas enquanto tecnologia, e esta garante a formidável legitimação do poder político em expansão que absorve todas as esferas da cultura”. (HABERMAS, 1975, p. 305).

A partir do momento em que o grupo aprende a usar arco e flecha, com o grupo da mulher, eles se tornam capazes de lutar contra grupos mais fortes ou mais numerosos. Isso também pode ser dito em relação à forma como cada grupo se relaciona com a natureza, á medida que o grupo aprende a domina-la ele aumenta suas chances de sobrevivência, a cena em que os protagonistas usam os mamutes para fugirem do grupo rival, é um exemplo disso. A própria busca pelo controle do fogo, também mostra essa característica.

Marc Ferro, em seu livro “Cinema e História” mostra como o cinema se configura como um documento histórico, ao retratar a realidade de determinada época, ou ainda retratar um fato importante da própria história. “O filme, aqui, não está sendo considerado do ponto de vista semiológico. Também não se trata de estética ou de história do cinema. Ele está sendo observado não como uma obra de arte, mas sim como um produto, uma imagem-objeto, cujas significações não são somente cinematográficas. Ele não vale somente por aquilo que testemunha, mas também pela abordagem sócio-histórica que autoriza.” (FERRO, 1976, p. 87.) A Guerra do Fogo, é um exemplo disso, quando retrata a Pré-história, mais o filme também pode ser um documento para a antropologia, à medida que, como foi dito no início desse texto, mostra questões do homem e sua relação com os indivíduos e com o seu meio.

CONFIRA O TRAILER DO FILE NO VÍDEO ABAIXO:



FICHA TÉCNICA:

Diretor: Jean-Jacques Annaud
Elenco: Everett McGill, Rae Dayn Chong, Ron Perlman, Nameer El-Kadi, Gary Schwartz, Kurt Schiegl, Frank Olivier Bonnet, Brian Gill.
Produção: Michael Gruskoff, Denis Heroux, John Kemeny
Roteiro: Gérard Brach
Fotografia: Claude Agostini
Trilha Sonora: Philippe Sarde
Duração: 97 min.
Ano: 1981
País: França/ Canadá
Gênero: Aventura
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Ve, gostei muito dessa postagem, pois não assisti esse filme todo.
    O seu blog está lindo e a proposta dos filmes foi show, pois gosto muito de filmes tb.

    bjos

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  3. como vc definiria cultura apos assistir , Guerra de fogo

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